Tradução: "Entrevista especial com Fujita"

No artbook de Wotakoi, lançado em outubro de 2021, há uma entrevista especial com a Fujita, autora da obra. Sempre tive vontade de saber do que se tratava a entrevista, as perguntas e respostas, mas nunca encontrei uma tradução. Ai, em agosto do ano passado, foi lançada a edição estadunidense, com tudo devidamente traduzido para o inglês (além da entrevista, as tirinhas e algumas imagens comemorativas também tiveram seu texto traduzido). Finalmente com essa edição em mãos, pude ler a entrevista. 

Além de ser uma entrevista exclusiva com mais informações sobre a mangaká e a obra, esse também é o primeiro post da série de post para o aniversário de 10 anos de Wotakoi. A obra começou em abril de 2014, no Pixiv, e para essa data comemorativa, gostaria de finalizar a tradução da entrevista com a Kodansha e (tentar) fazer pequenas reviews sobre os volumes ao longo do ano. Não vou prometer nada muito além disso porque, apesar de até ter uma ideia ou outra, não quero criar uma auto cobrança.

Importante lembrar que, apesar de ter um nível avançado de inglês, não tenho experiência com tradução. Tudo que traduzi até agora foi para o blog. Comentários e informações incluídas por mim durante a tradução estarão dentro de [colchetes].

Vamos à entrevista!

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Há alguma ilustração que seja particularmente memorável?

Fujita: As primeiras que me vêm a cabeça são as ilustrações de festival de verão que eu fiz para as clearfiles. Eu consegui fazer a arte HiroNaru ficar muito fofa e acho que a KabaHana também, considerando que eu pensei nela de última hora. Eu também gosto bastante do pôster da campanha eletrônica para o Web Manga General Election. Enquanto outras obras usaram designs mais razoáveis, eu estava decidida a ir com aquele tipo de abordagem para Wotakoi. (Risos)

A capa pro CD, que eu desenhei para a música de encerramento do anime, "Kimi no Tonari" (Ao seu lado), também me vem a cabeça. Considerando o titulo da musica, eu imaginei os personagens totalmente relaxados quando juntos entre eles, como casal. Foi isso que tentei passar com essas ilustrações. Os dois desenhos foram pensados complementarmente, um cenário pós-encontro e um em casa. No momento em que fiz esses, já tinha feito tantas ilustrações que eu estava ficando sem ideia para a composição das cenas, foi um pouco difícil. (Risos) Eu não gosto de desenhar o mesmo tipo de cenário duas vezes, então até chegar no resultado final, foi tentativa e erro.

Quanto as capas dos capítulos, a do capítulo 16 foi memorável. Eu normalmente deixo o fundo para os meus assistentes, mas dessa vez eu quis desenhar tudo eu mesma. A mesma coisa para a capa do capítulo 19.

Sobre a arte das capas dos volumes, teve algum detalhe em particular que você prestou mais atenção?

Fujita: Eu não pensei muito quando fiz a capa do volume 1, mas conversamos bastante para fazer a do volume 2 [acredito que aqui ela está se referindo à editora responsável pela obra]. Eu tive a ideia de usar a mesmo design base usando personagens diferentes e decidimos usar isso na versão final. Talvez você ache que eu não goste dos desenhos mais antigos das capas, mas a que eu fiz para o volume 1 é a que mais gosto. É um pouco constrangedor falar isso sobre minha habilidade de desenho, mas eu não acho que consiga fazer o Hirotaka tão fofo como fiz para a capa do volume 1.

Qual o processo de criação de ilustrações coloridas?

Fujita: Eu faço um esboço e uso ele para desenhar o rascunho no computador. Eu faço esse esboço no papel e escaneio para usar de base no rascunho digital, desenho as linhas direitinho, pinto, e depois adiciono alguns efeitos para finalizar. Usar papel e fazer esboços nele com lápis, é o jeito mais rápido para mim. Pelo menos para começar. (Risos) Depois disso eu inicio o software de desenho digital, crio um arquivo, tento deduzir o tamanho que o desenho vai ter e uso uma tela em branco que eu posso aproximar para sempre... Pra mim é um pouco difícil pensar nessas coisas enquanto trabalho, por isso é bem importante pra mim que esses passos iniciais sejam rápidos fazendo esse esboço inicial no papel com o que vier à mente.

Desenhar no papel é mais rápido e intuitivo. Já aconteceu de eu desenhar um storyboard na parte de trás e um flyer, ai para a exibição onde exibiríamos meus trabalhos, tivemos que descobrir como fazer para que o que estava impresso na outra face não aparecesse. (Risos) 

Como surgiu a ideia do design das personagens?

Fujita: O casal HiroNaru surgiu de uma conversa com uma amiga. Estávamos criando cenários "E se?". Ela disse "É assim que eu imagino que seria uma otaku fujoshi" e fez um esboço. Ai eu respondi "Acho que o cara seria assim" e fiz meu próprio personagem. Eu acabei bem animada com isso e perguntei se poderia desenhar um manga a partir disso e postar no Pixiv. Foi assim que começou.

Eu desenhei o Hirotaka para ser uma combinação do que nós duas imaginamos, pensando "quais os tipos de características teria um otaku gamar relativamente atraente e que está apaixonado por uma garota, o que o deixa fofo?"

Para KabaHana, eu desenhei o tipo de personagem que eu normalmente gosto. O rosto do Kabakura é tão fácil de desenhar que eu consigo desenhá-lo sem muitos problemas. Como os olhos do Kabakura tem essa inclinação, eu tento fazer os olhos da Hanako mais longos e estreitos em vez de inclinados, mas eles acabam ficando assim quando eles brigam, então eu acabo não conseguindo diferenciar muito bem. (Risos)

Quando eu estava criando o Naoya, eu tentei manter algumas das características do Hirotaka, mas de um jeito que causasse uma impressão totalmente diferente. Eu fiz a Kou pensando no arquétipo de uma introvertida. Pessoas que tem medo de lidar com outras e não querem se destacar tendem a ter uma franja que os permita evitar chamar atenção. E a pinta abaixo do olho dela simboliza o fato dela ter chorado muito enquanto crescia... algo assim. Eu coloquei nela características que a fazem parecer "ter grande potencial mas que ainda falta alguma coisa", como por exemplo, ter cílios longos e bonitos junto com sobrancelhas mais caídas e grossas.

Há algo em particular ou detalhes que você prestou mais atenção na hora de fazer o design dos personagens?

Fujita: Eu me certifiquei de que a cor de cada personagem ficasse explicita pela cor do seu cabelo. Eu espero que ver essas cores faça com que os personagens venham à mente.

Eu faz a Narumi e o Hirotaka rosa e azul, assim eles ficariam fofos juntos. Hanako e Kabakura naturalmente foram verde e vermelho [Sim, vermelho]. Elas são cores complementares que "brigam" entre si, por isso achei que que combinaria bem. Naoya e Kou também são cores complementares, amarelo e roxo. Desde que não sejam muito intensas, amarelo e um roxo claro ficam muito fofos juntos. Não foi exatamente intencional, eu só acabei escolhendo cores que combinassem.

Houve alguma atenção especial para as roupas dos personagens?

Fujita: Eu queria que os ternos fossem estilosos, então estudei um pouco sobre. Uma coisa que prestei atenção foi em fazer o Hirotaka desabotoar a jaqueta do terno sempre que ele se sentava nos intervalos ou outros momentos. Eu ouvi que no exterior as pessoas desabotoam as jaquetas dos ternos sempre que sentam e abotoam sempre que levantam, porque aparentemente se sentar com a jaqueta abotoada o terno vai ficar amassado de um jeito estranho. Mas isso não é comum no Japão, então eu me arrependo um pouco de fazer o Hirotaka fazer algo tão chique. (Risos)

Eu também fui bem detalhista em relação a como os personagem ficam ao ficarem em pé. Eu gosto quando os homens se encostam usando o quadril, fica parecendo que o centro de gravidade é ali, então eu incluí isso até certo ponto. Eu tendo a desenhar personagens nessa posição quando, inconscientemente, quero que eles pareçam mais sexy... como o Kabakura. Eu tive o cuidado de não fazer o Naoya nessa posição.

Quando desenhava o Hirotaka sentado, eu tentava chamar atenção para as longas pernas dele... no entanto  o próprio Hirotaka não tem essa noção delas. (Risos) Eu admito que gosto de desenhar características e gestos da vida real que eu vejo e gosto.

Como você chegou ao seu estilo de desenho?

Fujita: Eu acho que o estilo de desenho de uma pessoa é como seu jeito de andar. Mesmo que você tenha uma visão ruim ou não consiga enxergar direito o rosto da pessoa, as vezes consegue dizer quem é só pela silhueta ou modo de andar, sabe? Tipo, "aquela era minha irmã mais nova" ou "é meu pai". Eu acho que esse tipo de coisa é desenvolvido de maneira natural ao longo da vida, e com o desenho também. Eu acho que é como funciona para pessoas como eu, que nunca tiveram um estilo de desenho especifico como objetivo.

O que te fez começar a desenhar mangás e fazer ilustrações?

Fujita: Não aconteceu nada de muito especial que me colocou nisso. Eu sempre gostei de desenhar. Quando estava no ensino fundamental, eu fazia umas tirinhas no meu caderno e lia para os meus amigos. (Risos)

Então meus amigos começaram a pedir para ver meus mangas e era tão divertido. Acho que foi assim que começou.

O que você gostaria de desenhar daqui pra frente?

Fujita: Seria um pouco constrangedor dizer o que eu quero desenhar e depois as pessoas dizerem "olha, ela nunca fez isso". Então só vou dizer que eu realmente quero continuar desenhando alguma coisa e vamos deixar assim. (Risos)

Mas uma coisa que eu quero fazer para o que quer que venha depois é começar primeiro no Pixiv e criar isso junto com os leitores como fiz desde o início.

Por fim, você tem alguma mensagem para seus fãs?

Fujita: Há muitas ilustrações nesse livro e eu só fui capaz de fazê-las graças ao apoio dos fãs que continuamente demonstraram seu amor pela obra. Tanto que eles estão dispostos a comprar esse artbook, que é como um subproduto, algo diferente do mangá. Muito obrigada por me acompanhar por esses seis anos.

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